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UMA FLANEUSE IDOSA NA PERIFERIA BRASILEIRA
Última alteração: 2021-09-28
Resumo
https://www.youtube.com/watch?v=9m6q2VcC3NI
O premiado romance Quarenta dias é narrado por Alice, uma professora aposentada que durante quarenta dias se desenraiza de sua antiga vida, abdica do conforto de seu novo apartamento e parte para a periferia de Porto Alegre. Ao narrar sua exploração urbana — e estética —, Alice se despe de seus preconceitos e descobre que aquele local marginalizado se assemelhava com sua terra, a Paraíba. Como os parisienses do século XIX, na prática da flânerie, Alice transforma suas experiências errantes em conhecimento do meio e em conhecimento de si, além de desfrutar de sua liberdade. A partir dessas reflexões, realizamos uma pesquisa de natureza básica e bibliográfica, abordagem qualitativa e orientação exploratória. O trabalho teórico consistiu na leitura das obras Passagens (2009) e Obras escolhidas III (1989) de Walter Benjamin para discutir como o flâneur de Walter Benjamin se apresentaria no Brasil do século XXI, espaço marcado pela segregação socioespacial e pela desigualdade de gênero, que podem impedir a caminhada despreocupada e ociosa. Além disso, uma mulher é incapaz de flanar despretensiosamente como sua personagem correlata do sexo masculino, já que sua presença no meio da multidão está fadada ao aflitivo encontro das violências a que todas aquelas mulheres, flanantes ou não, estão suscetíveis ao ocuparem espaços públicos. Objetivamos traçar pontos de encontro e divergências entre o flâneur benjaminiano e o contemporâneo, observando como o percurso realizado por uma mulher idosa na periferia de uma metrópole fissura os valores ressaltados por Benjamin. Para a comparação com o flâneur contemporâneo, utilizamos as leituras de Flanâncias femininas e etnografia (2020), de Nadja Monnet, e Walter Benjamin e Paris: individualidade e trabalho intelectual (2000), de Renato Ortiz. O romance permite que observemos, portanto, como a pretensa unidade do espaço público encobre a hierarquização de sujeitos e legitima a violência.
O premiado romance Quarenta dias é narrado por Alice, uma professora aposentada que durante quarenta dias se desenraiza de sua antiga vida, abdica do conforto de seu novo apartamento e parte para a periferia de Porto Alegre. Ao narrar sua exploração urbana — e estética —, Alice se despe de seus preconceitos e descobre que aquele local marginalizado se assemelhava com sua terra, a Paraíba. Como os parisienses do século XIX, na prática da flânerie, Alice transforma suas experiências errantes em conhecimento do meio e em conhecimento de si, além de desfrutar de sua liberdade. A partir dessas reflexões, realizamos uma pesquisa de natureza básica e bibliográfica, abordagem qualitativa e orientação exploratória. O trabalho teórico consistiu na leitura das obras Passagens (2009) e Obras escolhidas III (1989) de Walter Benjamin para discutir como o flâneur de Walter Benjamin se apresentaria no Brasil do século XXI, espaço marcado pela segregação socioespacial e pela desigualdade de gênero, que podem impedir a caminhada despreocupada e ociosa. Além disso, uma mulher é incapaz de flanar despretensiosamente como sua personagem correlata do sexo masculino, já que sua presença no meio da multidão está fadada ao aflitivo encontro das violências a que todas aquelas mulheres, flanantes ou não, estão suscetíveis ao ocuparem espaços públicos. Objetivamos traçar pontos de encontro e divergências entre o flâneur benjaminiano e o contemporâneo, observando como o percurso realizado por uma mulher idosa na periferia de uma metrópole fissura os valores ressaltados por Benjamin. Para a comparação com o flâneur contemporâneo, utilizamos as leituras de Flanâncias femininas e etnografia (2020), de Nadja Monnet, e Walter Benjamin e Paris: individualidade e trabalho intelectual (2000), de Renato Ortiz. O romance permite que observemos, portanto, como a pretensa unidade do espaço público encobre a hierarquização de sujeitos e legitima a violência.
Palavras-chave
Quarenta dias. Literatura contemporânea. Flâneur. Espaço público.